A Crise como oportunidade!
Pr. Egon Lohmann
Em seu livro “A Insustentável Leveza do Ser”, o romancista Milan Kundera descreve um jovem médico que, em nome da liberdade e da felicidade pessoal, tenta esquivar-se tanto dos laços matrimoniais quanto de quaisquer outros responsabilidades. A conclusão de Kundera é que, a longo prazo uma tal atitude – que foge de todo e qualquer compromisso – despe a vida de sentido, acabando por tornar-se insustentável. Todo ser humano que se preze como tal, carece de uma “âncora” que o puxe para baixo, o mantenha com os pés não chão, enfim, o torne humano!
Em tournée musical nos Estados Unidos, nossa filha voltou indignada com a, então, aparente riqueza e o esbanjamento do povo americano. Hoje sabemos que pegavam carona numa bolha financeira que acabou estourando. Gerou-se a crise. Era o “insustentável sonho americano”... O quanto nós, aqui no Brasil, fomos e ainda somos influenciados pelo “american way of life”? O quanto fomos cegados pela ilusão de um mundo hedonista e fechado em si mesmo, sem olhos para as necessidades do outro - a ponto de Busch preterir o tratado de Kioto em função do american way, segundo ele, inegociável? Como já se disse por aí, “ninguém é uma ilha”, por mais que alguns se iludam com tal idéia. Precisamos, dependemos uns dos outros e esta interdependência promove e enriquece a vida em todos os sentidos! “Servi uns aos outros”, “levai as cargas uns dos outros”, “amai-vos uns aos outros”, são apenas algumas das “mutualidades” e exemplos, aos quais o Novo Testamento nos remete.
Neste sentido podemos falar de uma crise solidária e construtiva, de reengenharia e fomento da vida e, de outra, solitária e insustentável. Também a crise atual terá, então, o seu lado positivo, ao abrir nossos olhos para as coisas maiores e melhores e nos levar a abrir mão de valores transitórios para acolher os eternos. Que saibamos respeitar a dor e a preocupação de quem ficou desempregado ou cuja empresa não encontra mercado para vendas. Porém os valores espirituais e relacionais não são menos importantes e é em tempos de deserto, de doença e de crise que mais somos levados a refletir e a avaliar nossa caminhada. E nisto reside bênção. Ademais, na oração do Pai Nosso pedimos pelo pão nosso de cada dia, para hoje, e não para mantê-lo armazenado nos bancos para os próximos cinqüenta anos! Enfim, como tantas outras, também esta crise financeira há de passar e outras, mundiais ou pessoais, virão. No final, porém, certamente haveremos de constatar o que também o apóstolo experimentou: “de todas essas coisas o SENHOR me livrou” ! (2ª Timóteo 3,11).
Fonte: Jornal Sinodal - Coluna - TEXTO & CONTEXTO
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