“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo.” (Mateus 23:13)
Eu sempre li este texto com olhos críticos voltados para os líderes eclesiásticos, assim como esse era também o tom das pregações e mensagens que tenho ouvido sobre ele. O foco é sempre nos líderes que fazem mais mal do que bem, os “servos do inferno” ou “lobos em pele de ovelha”. Não que isso esteja errado ou desalinhado, mas como sempre eu quero mais. Comecei então a meditar e tentar entender como as coisas chegam a este ponto.
Uma pessoa se sente chamada por Deus para ministrar o evangelho, se prepara, faz curso, estuda, aprende, deixa de ter outra carreira, se incomoda cuidando de gente para cumprir seu propósito, na esmagadora maioria tem uma remuneração de medíocre para baixo (se comparado com uma carreira que poderia ter), dificilmente terá mais de uma centena de pessoas ao seu redor, pouquíssimos alcançam a mídia massiva além da Internet… mas afinal, o que deu nessa gente querendo ser “servo de Deus” e ganhar tão pouco? Como as coisas chegam ao ponto em que não entram no Reino nem deixam os outros entrar?
Eu teria de admitir que o espírito de engano é mais poderoso do que posso crer que seja, não vai rolar. Ou eu teria de aceitar que tem pessoas que têm tanta sede de poder que até um grupinho de 20-30 lhe bastam, mas me parece forçado. Ou ainda eu teria que admitir que as pessoas um pouco mais carismáticas conseguem dominar sua pequena multidão a qualquer custo e que isso não tem remédio, mas resisto muito à essa ideia. Parecia ser um beco sem saída, quando me lembrei que no começo da minha fé me ensinaram que para estudar a Bíblia é preciso deixar um texto no seu contexto (sim), mas é preciso olhar globalmente à luz dos demais textos (também). Uma coisa não invalida a outra.
Pense comigo por um momento: esses mencionados por Jesus eram os “profissionais da fé” em sua época, tal como hoje temos, por exemplo, mas não exclusivamente os pastores e padres. Muitos absolutamente dignos e bem intencionados, sei disso, mas outros que realmente parecem se encaixar na descrição. Não são fariseus, são pastores. Vivem no século XXI, não no I. O que temos em comum então com os dias de hoje? O POVO. Calma, não vou colocar a culpa no povo, apenas entender o que acontece.
O povo padece por falta de entendimento, erra por não conhecer as Escrituras nem o Poder de Deus. Vemos hoje a cena dos dias de Jesus na Terra com outra roupagem porque o problema essencial é o mesmo. Sempre haverá no meio do povo pessoas, em proporções que podemos discutir, que não se aplicam o suficiente para conhecer a Bíblia, a vontade de Deus, a Revelação, as Escrituras - chame como quiser. Nossos melhores relatos são de quando perseveravam unânimes diariamente em torno da Palavra, ainda que mesmo naqueles dias surgiram problemas.
Minha única conclusão é que estes a quem Jesus repreendeu e os de hoje, correm soltos nas raias da sociedade porque o povo não tem suficiente de Bíblia no sangue, não conhece o Senhor o suficiente para evitar de ser enganado. De quem é a culpa? De ambos, claro. Não vamos eximir a culpa de um líder abusado, nem menosprezar o quanto alguém pode ser influenciado em seu desconhecimento.
A cura portanto, por mais óbvia e repetitiva que nos pareça, é ensinar o nosso povo a aprender. Mais do que pregar, ensinar a lerem a Bíblia. Mais do que consolar, ensinar a buscar consolo nas Escrituras. Mais do que ter razão, mostrar o certo. Isso nunca vai zerar a conta, mas vai permitir que pessoas como as descritas neste texto, sejam mal intencionadas ou apenas hipócritas se auto-iludindo, tenham que se contentar com meia dúzia de gatos pingados.
Aos líderes, e me incluo nisso, lembremos que tem Jeremias 23 em todas as Bíblias e por mais antigo que aquilo seja, os princípios permanecem pois Deus não muda de caráter.
“Senhor, abre meus olhos para eu estar o mais próximo possível de Ti por meio da Tua Palavra, sem engano e sem ser enganado. Eu sou co-herdeiro do Reino dos Céus juntamente com Cristo e quero levar comigo tantos quantos eu possa.“
Mário Fernandez
Pr Mário Fernandez vive em Curitiba desde 1994, onde desempenha seu ministério local com ensino, liderando células, discipulando homens e ministrando a Palavra.
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