Viver um evangelho que supera um mero conjunto de regras nos leva a ter mais conhecimento bíblico, pois não há como ignorar os princípios. Tais princípios podem ser ensinados ou aprendidos por tradição, por dedução, por lógica – mas nada disso supera o que a Bíblia diz, pois na qualidade de Revelação inerrante do Deus a quem servimos, amamos e adoramos, a Bíblia é plena e suficiente.
Mas isso contradiz a lógica dos nossos dias, a angústia da nossa sociedade, os noticiários, a realidade da vida cotidiana. Tudo isso vai ficando cada vez mais difícil, tal como a Bíblia anunciou, e basta olhar em volta. Queremos juízo, ansiamos por justiça, olhamos em volta e tudo está complicado. Politicamente o Brasil vive um momento tumultuado, a segurança pública está preocupante, a saúde vai mal, a economia agoniza. Não seria um bom momento para falar em misericórdia.
Mas o evangelho não tem nada relacionado com essas coisas, por que ele é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crer, é um estilo de vida e não um conjunto de regras, é algo para ser vivido e não apenas entendido. Desta perspectiva, e creia-me quando digo que tenho todos os elementos para julgar, não seria um bom momento para misericórdia.
Testemunhei pessoalmente dias (literalmente alguns dias) uma cena terrível – fui abastecer meu carro e vi um jovem sendo baleado no pátio do posto por um carro que passou e nem parou – atirou direto nele. Era dívida de droga? Vingança? Crime passional? Bala perdida? Sei lá. Não sei como foi o desfecho, a ambulância levou o rapaz ainda com vida. E daí, chama polícia, fica olhando, faz que não viu?
Quando olhamos ao nosso redor, como agentes do evangelho, deveríamos buscar nossos jovens na ida para o pátio do posto e não no hospital (ou coisa pior). Teríamos de dar um exemplo vivo que inspire os outros a não dar tiros. Deveríamos encarar aquele mendigo de sempre ao invés de “um traste humano” como “desperdício de um profeta”. Deveríamos nos dedicar mais à pregar a Palavra e menos a ter razão com os vizinhos. Fácil? De jeito nenhum. Viável? Quase que não, mas ainda é.
Não sei como era nos primeiros séculos pois a perseguição era mortal. Não sei como era na idade média, pois a perseguição era mortal. Não sei como era no inicio do “BOOM” das missões, pois qualquer iniciativa era mortal. Mas sei que hoje parece que tudo é mortal, tudo é difícil, tudo se complica a cada dia. Para onde vai a misericórdia? Onde estamos nós, agentes da misericórdia?
Estou convencido de que é chegado um tempo em que fazer diferença é exercer misericórdia. Deixei uma questão para o final intencionalmente: o que é misericórdia? É ter pena? É agir em interesse próprio? É perdoar? É dar suporte ao necessitado? A Bíblia diz que a misericórdia de Deus é a causa de não sermos consumidos, por isso creio que na nossa vez e no nosso papel, misericórdia é antes de tudo propagar a salvação enquanto forma de “não ser consumido”. Tudo que consome é inimigo da misericórdia. É tempo de despertarmos para isso.
Termino dizendo o óbvio: a igreja (povo de Deus na Terra, independente de organização ou denominação) é agente da misericórdia de Deus e portanto é tempo de nós (igreja) apregoarmos a salvação. Ou isso ou seremos consumidos.
Mário Fernandez