Podem os Mortos comunicar-se com os vivos?
Escrito por Pr. Luiz César Nunes de Araújo
O filme de Daniel Filho sobre Chico Xavier, em exibição nos cinemas brasileiros, bem como a novela da Rede Globo “Escrito das Estrelas, fazem renascer uma questão que é tão antiga quanto a humanidade: a possibilidade dos vivos manterem algum tipo de comunicação com os mortos. No filme sobre Chico Xavier o protagonista parece manter uma íntima ligação com o espírito de um homem chamado Emanuel, bem como aparecem cenas em que recebem mensagens psicográficas de pessoas que já morreram. Assim pessoas emocionalmente abaladas se sentem consoladas e confortadas ao receberem do além, informações sobre os seus entes queridos.
A tentativa de contactar os mortos é chamada pela ciência e pela Bíblia de necromancia, e é uma prática muito antiga. O necromante se apresenta como um catalisador de um possível espírito desencarnado, trazendo supostamente uma mensagem destes para os vivos. O termo mais usado para descrever o necromante hoje é “médium”. Este se apresenta como aquele que está entre, no meio, intermediando a relação dos mortos com os vivos.
No período vétero-testamentário, já havia a preocupação divina quanto a prática de consultar os mortos entre os israelitas que saíram do Egito, visto que os cananeus o faziam. Havia na Palestina a tentativa pagã de tentar se comunicar com espíritos desencarnados de pessoas mortas Tal atitude foi descrita por Moisés algo abominável (Dt 18. 9-14; I Sm 28. 7; II Reis 21.6; Is 8.19-20).
Hoje em dia a necromancia é praticada de forma diferente por diferentes povos e religiões. No Brasil as religiões Afro-brasileiras, espíritas e católica fazem uso deste mecanismo, de forma variada e constante.
Além das religiões, há grupos que em nome da “ciência” buscam contato com os mortos. Assim, todas as classes sociais, cada qual a seu modo, buscam a comunicação com os mortos. Assim os mortos são invocados pelas orações, pelas oferendas, pela psicografia, pelas sessões mediúnicas e pela chamada “ciência cristã”.
A oração ou prece aos “santos”, muito usada no catolicismo, também é uma tentativa de comunicação com os mortos. Cada vez que uma pessoa reza a Maria, a São Judas Tadeu, ou a qualquer pessoa chamada de “santa” pela igreja, ela está buscando o contato com uma pessoa que já morreu, visto que todos os chamados santos católicos estão mortos.
O que a Bíblia ensina sobre este tema?
I. A BÍBLIA CONDENA QUALQUER TENTATIVA DE SE CONSULTAR OS MORTOS
A Lei Mosaica proibia veementemente qualquer prática de se comunicar com os mortos (Dt 18.9-14; Lv 19.31 e 20.6).
Jesus ensinou a impossibilidade dos mortos se comunicarem com os vivos quando, fazendo alusão a um homem que estava no inferno, afirmou que este não poderia voltar aos seus irmãos vivos, nem mesmo para alertá-los sobre o terrível lugar onde se encontrava. Segundo este texto os vivos não se salvariam do inferno por ouvirem uma pessoa que havia voltado de entre os mortos. Os vivos deveriam ouvir a Palavra de Deus, representada por Moisés e pelos Profetas. (Lc 16.27-31).
Conforme Hebreus 9.27 após a morte existe somente o juízo:
Hb 9.27:
E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo,
Tal afirmação faz alusão ao julgamento final em que todos os homens prestarão contas de suas vidas a Deus (Ap 20.11-15). Assim, os mortos não podem realizar nada nem exercer qualquer influência no mundo dos vivos, como nos informa Salomão:
Ec 9.10: Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.
Os que morrem sem salvação, isto é, sem terem tido um encontro pessoal com Jesus vão para o inferno para um sofrimento temporário. Depois, após o julgamento final irão definitivamente para o inferno definitivo (Mc 9.43- 48; Ap 20.14-15), ou seja, para um sofrimento eterno.
Os salvos vão para o paraíso (Lc 16.19-31; 23.43) onde aguardam o Novo Céu e a Nova Terra (2 Pe 3.13). Eles habitarão com o Senhor para sempre na nova Jerusalém ( Ap 21.1-7). Não temos na Bíblia nenhuma referência de que estes mortos, sejam perdidos ou salvos, mantém qualquer comunicação com os vivos.
Muitos usam o evento da transfiguração de Jesus (Mateus 17.1-8 e Lucas. 9.28-36) para defenderem a comunicação com os mortos. Observemos, no entanto, que quem conversa com Moisés e Elias é o próprio Senhor Jesus, que é Senhor dos vivos e dos mortos (Rm. 14.8-9) e não os discípulos. Jesus tem autoridade para falar a vivos e mortos (1 Pe 3.19-20).
Observemos que não foi permitido qualquer contato de Pedro e os outros com os dois líderes do Antigo Testamento. O propósito do texto é mostrar aos discípulos a divindade de Cristo e não ensinar a consultar os mortos. Não encontramos em nenhum lugar da Bíblia estes mesmos discípulos buscando qualquer comunicação com os que já morreram e nem ensinando isto em suas epístolas.
II. A BÍBLIA ENSINA QUE SÃO OS DEMÔNIOS QUE SE COMUNICAM COM OS VIVOS, NÃO OS MORTOS
Os demônios podem se apresentar como anjos de luz e enganar os desavisados, conforme nos ensina o Apóstolo Paulo:
II Co. 11.14: E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.
No latim é usado o termo “Lúcifer”, para se referir a Satanás, pois significa “portador de luz “. O Novo Dicionário da Bíblia afirma que em Isaías 14.12 aparece o termo hêlêl que foi traduzido como brilhante, ou portador de luz, se referindo inicialmente ao rei da Babilônia, mas numa segunda interpretação, ao próprio Satanás, que era um portador de luz. Hoje ele usa uma falsa luz para atrair os homens a ele e para afastá-los do Senhor Jesus, que de fato é a brilhante estrela da manhã (Ap 22.16).
Os que buscam qualquer contato com os mortos ou com qualquer ídolo correm o risco de se envolverem com Satanás e com seus correlatos, os demônios (I Co 10. 14-22).
Os demônios podem tomar a característica de uma pessoa que morreu e manifestá-la aos vivos nas sessões de necromancia, parapsicologia, psicografia, etc.
Em 1 Samuel 28 temos uma “suposta” conversa de um vivo (Saul), com um morto (Samuel), no entanto o que aconteceu neste texto foi uma sessão de necromancia condenada pelo próprio Saul:
1 Sm 28:9: Respondeu-lhe a mulher: Bem sabes o que fez Saul, como eliminou da terra os médiuns e adivinhos; por que, pois, me armas cilada à minha vida, para me matares?
O que nos parece é que Saul, já emocionalmente abalado e espiritualmente enfraquecido, foi enganado por um “espírito”. A palavra que aparece para espírito aqui é Elohim, que quer dizer deuses. Era como se dissesse: os espíritos dos deuses subiram até nós (v.13). O que nos faz crer que não era Samuel que se apresentava à Pitonisa é que as palavras ditas por este espírito não se cumpriram, pois nem todos os filhos de Saul morreram com ele, mas apenas três deles (1 Sm 28.19; 31.12; 1Cr 10.12). Nem tão pouco Saul morreu no dia seguinte como dissera o suposto espírito, mas alguns dias depois (1 Sm 31.1-7). Não há qualquer dúvida de que se tratava-se de um espírito mentiroso, um demônio.
Alguns ficam reticentes em pensar que são os demônios que se comunicam e não os mortos, visto que muitas vezes os médiuns trazem palavras que parecem ser dos entes queridos. Às vezes até apontam para objetos que pertenciam aos que já morreram. Avaliemos, no entanto, que, quando não se tratar de charlatanismo do médium, que Satanás é um ser milenar, inteligente, pai de todo o engano e mentiroso. Ele é capaz de fazer parecer que a mensagem é do próprio ente falecido. Vejamos com a Bíblia nos alerta quanto a astúcia do inimigo de nossas almas:
João 8.44: Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.
1 João 2.22: Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho.
1 Ts 2. 9-11: Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira.
Em algumas ocasiões pessoas desatentas se deixam levar por este espírito de engano, pensando que se trata de uma mensagem divina julgando que Satanás não falaria palavras tão parecidas com as do próprio Deus e dos servos de Deus. O suposto espírito Emanuel que norteia as revelações de Chico Xavier ensina o bem, o amor, a prática da solidariedade, a união dos povos, e coisas assim.
Para não nos enganarmos devemos observar que, na Bíblia, quando Satanás se faz ouvir, ele também usa boas palavras e muito semelhantes às de Deus. Ele não aparece com chifres e tridente, mas como um benfeitor, um mensageiro, um amigo, um anjo de luz. Foi assim que ele se aproximou de Eva no jardim e lhe disse palavras que pareciam cheias de sabedoria (Gn 3.1-5).
O astuto inimigo, no deserto, se aproximou do Senhor Jesus propondo-lhe comida e glória (Mt 4.1-11). Em outra oportunidade Satanás sugeriu a Jesus não subir para Jerusalém para ser morto ali. Jesus, no entanto, sabia que atrás desta mentirosa preocupação estava aquele sagaz inimigo que não cogitava nas coisas de Deus (Mt 16. 22, 23).
Semelhantemente o Apóstolo Paulo não se deixou enganar por um espírito que repetia: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação. E, conquanto falasse o que era correto o experiente Apóstolo não se deixou enganar e expulsou o demônio pregador
( Atos 16.18).
O espírito do anticristo vem para enganar, se possível, os próprios escolhidos (Mt 24.24). Não é em vão que o espírito que acompanhou a Chico Xavier é chamado de Emanuel. Este usurpa o maravilhoso nome que aponta
para Jesus, que quer dizer “Deus Conosco” (Mt 1.23). De fato o ladrão vem somente para matar, roubar e destruir (João 1.10) e não devemos nos enganar com suas palavras cheias de engodo. Satanás pode se apresentar como um “Fantasminha Camarada”, mas a sua intenção será sempre destruidora e destituída de qualquer sentimento nobre. Ele é homicida desde o princípio e não mudará jamais (João 8.44).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como povo de Deus devemos alertar aos homens do perigo que correm em querer consultar os mortos. Alguém poderia ser feliz em praticar o que o próprio Deus chama de abominável? (Dt. 18.9).
Também os que assim fazem correm o risco de se submeterem ao que pode estar inserido no que oApóstolo Paulo chama de “ensino de demônios”(1 Tm 4.1).
A nossa preocupação deve ser com os vivos e não com os mortos.
Também devemos avisar aos homens que todos devem se preparar para a morte e não aguardar para nos salvar do outro lado da vida como nos ensina o Senhor Jesus:
Lc 16. 31: Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.
Devemos prestar atenção na Palavra de Deus enquanto estamos vivos. Após a morte não existe qualquer possibilidade de salvação.
Não devemos invocar ou venerar qualquer pessoa que tenha morrido, mesmo que esta receba o título de “santo”.
Devemos observar que o único mediador entre nós e Deus é o Senhor Jesus. Este sim é o Deus dos vivos e será o nosso Deus quando morrermos. O salmista nos informa que o nosso Deus será o nosso guia até à morte (Sl 48.14). Outros textos apontam para o Senhor Jesus como o único mediador.
Atos 4.12: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.
1 Tm 2.5: Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.
Que estas verdades, tão claras como sol, nos façam tomar com mentira e engodo do inimigo de nossas almas, os ensinos que apontam para a comunicação entre vivos e mortos. Que creiamos assim e que preguemos tão relevante mensagem. Que mostremos aos homens que há um único mediador entre Deus e os homens, o seu nome é Jesus, o verdadeiro Emanuel.
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