Setsuko e o tsunami
Setsuko, uma talentosa flautista japonesa, em vista da recente tragédia em seu país, desabafou com minha filha: “As pessoas estão dominadas pelo pânico e as noites parecem não ter fim. Nunca vi uma imagem dessas na vida real, é inimaginável...”. E conclui: “A vida perde o sentido e tudo o que você é – e construiu, inclusive a carreira, parece não valer nada: É passageiro e tão rápido de se perder...” Então: A pergunta que não cala é: “Por que Deus permite tais tragédias? Por que não impede enchentes, deslizamentos e tremores de terra e tsunamis?”
Já o apóstolo Paulo, frente aos sofrimentos da humanidade, pergunta: “O que diremos, pois, em vista destas cousas?” E então, aponta para o que realmente importa e permanece: “Porque estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rom. 8,38-39).
Mas Paulo também amplia nosso olhar para uma perspectiva histórica dos fatos: Em primeiro lugar, todas as tragédias e todo sofrimento tem razão de ser: São conseqüência da queda da humanidade, ou seja, da separação de Deus. É o distanciamento de Deus, é o relacionamento quebrado com o Criador e Pai que nos torna tão frágeis e vulneráveis. Em segundo lugar, Deus é solidário com nossa dor. Ele não observa apenas à distancia, mas vem participar de nossa história na pessoa, no sofrimento e a obra de se Filho, Cristo Jesus. Mas também, com ele e a partir da ressurreição, traz esperança e salvação para este mundo em declínio e com os dias contados. Em terceiro lugar, pois, somos convidados a olhar para o alto e para frente, para os valores absolutos do reino de Deus, frente aos quais tudo, inclusive o sofrimento atual, torna-se relativo: ”Porque para mim tenho por certo que os sofrimento do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós” (Rom. 8,18). E conclui, dizendo que aguardamos “na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8,18 e 21).
Quem sabe, tal como Setsuko e, em vista dessa esperança, também nós damos uma parada e reavaliamos nossos valores? O que realmente importa no final? O que é relativo e transitório e o que é um valor absoluto, eterno, inegociável e do qual não abro mão, venha o que vier?
Pr. Egon Lohmann, Pastor Emérito, Curitiba/PR
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