Reflexão

Um propósito para 2012



Certa vez, depois de dar a bênção aos irmãos na igreja de Scete, o abade Macário lhes disse: ‘Fujam, irmãos’. Um dos anciãos lhe respondeu: ‘Como podemos fugir além deste ponto, já que estamos no deserto?’. Então Macário pôs o dedo na boca e falou: ‘Fujam disto’. Assim dizendo, entrou em sua cela e fechou a porta” (citado por James O. Hannay em Sabedoria do Deserto, 1904).

Porque monges e monjas se retiravam para o deserto? No deserto há um mínimo de distrações. Lá, a vida é dura, a solidão aperta, mas há silêncio. E, importante: a solidão induz à economia de palavras. E quando a boca cala, o coração fala e – Deus fala! É no silêncio que Deus se manifesta preferencialmente. É no silêncio que melhor ouvimos a sua voz. É no silêncio que a Palavra de Deus, tal como a semente lançada à terra, germina e brota a partir dos porões do coração. Pois a Palavra, a partir e através da qual o mundo foi criado, nasceu no silêncio eterno de Deus. E quando essa Palavra frutifica em nós, quer retornar ao silêncio. Pois é a partir do silêncio que se renova o ciclo de sementeira e do fruto. É a partir do silêncio que nos tornamos testemunhas do juízo e do amor de Deus; testemunhas que não falam palavras ocas e ditas a partir de si próprias. Falam sim, a palavra geradora de vida, a partir das profundezas do coração de Deus! Eis o fruto do silêncio.

Existe hoje, uma hiperinflação de palavras: São anúncios, revistas, jornais, livros, textos de internet; é propaganda, novela, shows, notícias e toda a verborréia com que televisão, rádio, vídeo, internet invadem nossos lares e entulham nossas mentes. E as pessoas falam demais, falam sem ouvir umas às outras; como uma pá de cinza sobre o braseiro, jogamos palavras por cima da chama que arde no peito do interlocutor que, mais uma vez, não encontra um ouvido, um coração acolhedor. E a gente fala para encobrir seus medos, suas feridas do passado, fugir de sua culpa não assumida e confessada. Enquanto isso, “a palavra com poder vem do silêncio” (Henry Nouwen).

O perigo é que ao falarmos demais, incorremos no risco de pecar ainda mais. Tiago adverte: ”Ora, a língua...é fonte de iniqüidade...é mal incontido” e “Se alguém não tropeça no falar é...capaz de refrear também todo o seu corpo” (Tiago 3,2.6.8). Final de ano é tempo de se propor a novas atitudes para o novo ano. Que tal, pois, tomar o firme propósito de silenciar o coração, de falar menos e ouvir mais? E desde agora, ensaiar passos nessa direção para poder constatar no final de 2012: Estou ouvindo mais e falando menos; estou sendo bênção para os outros!

“Vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal...” (Col 4,6)

Pr. Egon A. Lohmann



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